30 julho, 2011

Deturpante realidade.


  Mais uma noite de verão, com um calor sufocante. Meu apartamento lá trás não me chama de volta, e nem conseguiria; a força das estrelas, da lua e do asfalto sob meus pés é mais forte. E nesses dias, tudo o que me deixa um pouco melhor é isso. Sair por aí sem rumo, deixando meus passos me guiarem...
  Tem sido tão difícil viver, dia após dia; um nada me leva ao amanhã. Minha consciência me mantém no rumo, mas este por sua vez, não se define, não chega á lugar algum. E eu me pergunto qual é a saída, me pergunto; repetidamente. Mas nada, absolutamente nada me vem á mente.
  Não me recordo do preâmbulo disso tudo. Quando me dei por conta, aqui estava, nitidamente perceptível, escrito á sangue na parede á minha frente. Fulgente e cruel é a verdade. Para alguém que enxerga, para alguém que pode ver, para alguém que entende, - ela é o delírio, é a loucura, é o fim disso tudo. 
  Caminhando nestas ruas silenciosas á meus ouvidos, penso. Penso e não consigo me ater á nada. Tudo se transformou nisso. De antônimos á sinônimos em um piscar de olhos. O tudo e ao mesmo tempo o nada, me mantêm aqui. Qual é o sentido disse tudo? Porque e pra que estamos continuando? Por enquanto não há resposta, e eu sei disso.
  Esperando o julgamento final, eu continuo. Continuo sem rumo, sem direção, sem... Volto para meu apartamento, volto para o chuveiro. Enquanto e água percorre meu rosto, meus cabelos, meu corpo, eu sinto algo em meus olhos. São lágrimas. Lágrimas de nada, lágrimas procurando um porque para escorrer, sons torturantes saindo de minha garganta requerendo um alvo, meu corpo no chão gelado, reivindicando, implorando por um fim.

29 julho, 2011

Luzes no asfalto.


  A chuva molha meu rosto. É uma sensação boa, essa. Caminho lentamente pela calçada. Está anoitecendo e as luzes acendem-se. Muitas e muitas pessoas passam por mim. Ás vezes no trem, na rua, ou no ônibus, entretenho-me pensando sobre as pessoas ali, ao meu redor. São tantos rostos desconhecidos, tantos corpos diferentes esbarrando uns nos outros...
  Meus cabelos grudam em minha nuca, estou completamente molhada. Muitas pessoas apressadas correm para lá e para cá com seus inúteis guarda-chuvas. Você nunca teve vontade de largar as chaves, o celular, os papéis, e simplesmente caminhar na chuva?
  Minhas meias estão encharcadas de água. Sinto-me cada vez melhor á medida que minha pele fica gelada. Uma mulher e uma criança passam por mim; o garotinho pulou em uma poça de água e por isso levou um tapa. Está trovejando e o céu fica mais escuro á medida que me aproximo de casa.
  Os prédios á minha volta me fascinam. Sinto-me protegida por dois paredões de pedra. As formas irregulares do asfalto sob meus pés brilham com a luz dos postes sendo refletida na água; mais um ponto para a chuva. Chego ao meu prédio. Coloco a mão no portão para abri-lo, e neste exato momento o som de um trovão incrivelmente alto chega aos meus ouvidos. Parece que tenho um amor correspondido pela chuva.