Mercado nos fins de semana é sempre a mesma coisa. Todo mundo reclama que o todo mundo saiu de casa justo quando mais se precisava de agilidade e rapidez por entre os corredores e caixas...
Passando pelas prateleiras, pego o necessário. Nada mais que o necessário, já que fico tão pouco tempo em casa. Na sessão de hortifruti, desanimo. Escolher frutas, vegetais e afins, nunca foi o meu forte. Então, dou início a minha mais recente e feia mania, observar as pessoas.
À minha esquerda, há uma senhora. Tão tranquila escolhendo cenouras que chego a ficar enfadada com essa visão. Provavelmente já não tem ninguém para lhe cobrar o almoço de meio-dia. Somente os netos mais tarde, prontos para ingerir a maior quantidade de sacarose que puderem.
Na sessão de bananas um homem de aparentemente 38 anos, a mulher o mandou aqui para abastecer a fruteira da semana, – creio eu. Com as mandioquinhas, uma mulher nova e seu mais novo ainda, bebê. Um casal de mãos dadas olha os pés de alface.
O mais distante de mim, há um homem de aproximadamente 27 anos, ele por sua vez não está comprando nada. Ele está olhando para mim, me observando. Vejo isso com uma surpresa imensa, logo eu, que estava tão discretamente observando á todos.
Após a surpresa, veio o medo. Coloco meu carrinho em movimento, esperando sair despercebida. Chego á fila do caixa, que parece não andar nem um milímetro. Olho para os lados, nenhum sinal do tal observador. Me sentindo observada, largo carrinho, largo tudo e vou rapidamente á procura de meu carro no estacionamento.
Carros entrando, carros saindo. Avisto meu carro no canto mais vazio do estacionamento e por isso mesmo, o mais caro para ser utilizado. Minha mão vai à procura da chave em minha bolsa, alarme desarmado, mão na porta. Alguém me empurra contra a lateral do carro e me vira, segurando-me pela cintura.
É ele, o homem do mercado. Em pânico, pergunto á ele o que deseja. Sua resposta não é nada mais que um sorriso. E para minha enorme e segunda surpresa do dia, é um sorriso verdadeiro, sem sombra alguma de qualquer má intenção.
Torno a perguntar o que ele deseja, e dessa vez ele me dá um pedaço de papel pardo. Sem qualquer explicação, se vira e vai embora. Atordoada, entro no carro. Abro o pedaço de papel e leio:
- Enquanto você pensava estar observando, sem ser observada, eu acompanhava todos teus passos. Atrevo-me a dizer que provavelmente mora sozinha, por quais e pela quantidade de produtos que tinha em teu carrinho. Ojeriza inhame ou simplesmente não gosta, pela careta que fizestes ao passar por eles. Analisou atentamente a senhora que num primeiro momento, estava á sua esquerda. Assustou-se ao perceber-me ali no canto, olhando para você, simplesmente. Não tenha medo de mim, apenas achei-a interessante; e nem ao menos sei por quê.
P.S.: Seus sapatos são lindos, - me parecem de boneca.
Um sorriso bobo e inadequado brota em meus lábios. Mas logo me recomponho e me trago novamente á realidade. Cautelosamente saio do estacionamento. Coloco-me a pensar no ocorrido, e me sinto estranhamente insegura. Se o homem fosse uma pessoa mal intencionada neste momento eu poderia estar na delegacia, prestando queixa pelo roubo, ou pior, morta.
Decepcionada comigo mesma pela falta de cuidado, volto para meu apartamento. Sem permitir mais nenhum deslize em minha conduta, tomo um banho, almoço e recomeço meu trabalho. Após esquecido os meus ideais de romance platônico-psicopata-conto-de-fadas, que foi a idéia que se expeliu de meu subconsciente mais cedo, volto ás equações químicas.
de outrora: 14/11/10.
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